terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Carta de adeus à Psicologa do Esporte e aos atletas.

Minha querida,
chegou a hora do nosso adeus.
Confesso que sentia que ele estava nos rondando e me sentia assustada por isso... o fim sempre deixa algum rastro, nos proporciona algum sinal.
Lembro da primeira aula de quinta - feira na faculdade com o Marcelo Beckert, e durante a nossa apresentação, Roberta me apresentou e disse:
- A Mariana quer ser psicóloga esportiva.
Era a delícia dos meus 20 anos e do primeiro semestre, já que optei por não entrar na faculdade assim que deixasse o ensino médio.
Marcelo me olhou nos olhos, sorriu e desde aquele dia sempre que nos encontrávamos no corredor e ele cantava "pan pan pan paaaaan" e fazia embaixadinhas. Marcelo faleceu no final daquele semestre e eu perdi um dos meus grandes incentivadores.
Depois veio Renata, parceira que me chama até hoje de "fiel escudeira" e hoje só escrevo abertamente sobre nosso fim porque já comuniquei essa decisão para ela.
Manoel voltou de Ohio disposto a me adotar como pupila, trabalhamos juntos no basquete, foi demais.
Ronaldo eu jamais esquecerei, um dos melhores técnicos de basquete do Brasil, mas que optou por uma carreira acadêmica e eu aprovo. Ronaldo me colocou para dar aula na Universidade Católica de Brasília, sentar no banco o durante os jogos... ele se importou comigo, ele acreditou na gente como os outros citados acima.
Só que nós não podemos mais continuar.
Eu preciso crescer em vários sentidos e dessa vez eu aprendi que ser honesto e viver dessa forma vale muito!!!
Acontece que no Brasil as pessoas se esquecem que para chegar no outro lado da margem é preciso nadar.. e que esse percusso é muito importante, juntamente com os fatores que o cercam...
Não há muito lugar para a gente entende?
Então preciso te deixar... preciso me desligar desse amor platônico tipicamente adolescente que sinto que nutri por você todos estes anos.
É inadmissivel que haja essa desvalorização por pessoas que não apresentam qualquer tipo de deficit intelectual ou cognitivo, apresentam na verdade um deficit emocional que fica claro quando chega a hora de competir, mas talvez seja feio admitir fraquezas e receber ajuda especializada... os seres humanos ainda são muito complicados.
Por isso, quero trilhar outro caminho. Quero ter meu trabalho valorizado por quem realmente assume que precisa do meu esforço.
Hoje, vou embora de forma leve, sabendo que fiz tudo que podia para que você fosse valorizada junto a mim.
Eu desejo que você cresça e se mostre cada dia melhor. Eu infelizmente não posso mais te acompanhar e esperar por esse dia.
Aos atletas... sou capaz de lembrar de cada um deles, principalmente no último jogo quando ** José, Pedro e Daniel ** me agradeceram por tudo que fizemos por eles naquele campeonato.
Sou eu que agradeço a cada um desses atletas que em nenhum momento deixaram de acreditar em mim, até aqueles que me receberam com um certa desconfiança e receio. Provei muito para eles, quebrei reações adversas com um simples sorriso.
Foi mágico.
Mas vamos seguir um caminho mais real e estável, mesmo que não seja estável emocionalmente, pois ai está a grande sacada da criação do vínculo terapeutico na minha opinião, também precisamos entregar um pouco do nosso coração para que o processo terapeutico seja iniciado.
Obrigada de coração por tudo.
Adeus,

Mariana Moura

** Nomes alterados para sigilo da identidade **

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